Quero vislumbrar
O chão da ameixoeira
Que tinha o baloiço
E a sua sombra a dançar
Com o meu corpo de criança,
Ou as figueiras com os ramos
A roçar a terra escura e fértil,
Ou os caminhos de terra batida
Marcados pelos pés de gente querida.
Quero escutar
Os pombos a arrulharem
Ao redor dos ninhos no velho poço,
Ou o murmúrio da água
Escorrendo pelos sulcos
Para regar o sustento…
Nada distingo
No espaço aberto ao céu
Que foi só meu.
O tempo, carrasco, mudou
A forma das coisas:
Não vejo o baloiço
Nem a ameixoeira.
As figueiras esqueléticas
Oram ao céu.
Nos caminhos crescem ervas daninhas
Por não serem calcados há muito
Pelos pés de gente querida
O velho poço, em ruínas,
Já sem arrulhos de vida.
Consigo reter
Rostos cansados mas sorridentes
E mãos calosas com ternuras e afagos
Na minha mente.
São imagens sempre lembradas
Que acalmam os sentidos
Do meu corpo ausente…
Eugénia Edviges
Um abraço saudoso
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