segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Olhar o Meu Rio




De olhar enternecido
Debruço-me na ponte
Do meu rio.
O vento traz-me ao ouvido
Cantares de outras vozes,
Do pulsar de outros corações.
Margens de aluvião
Que dão sustento
A este povo curvado
Sobre a terra, sobre o pão.
Lembrança que faz sentir
Amores e desenganos
De outros corpos envolvidos    
Nas árvores do seu encanto;
De outras mãos que lavavam
As vestes do seu penar;
De outros sonhos por cumprir.
Corre tranquilo para o Tejo
E os dois, abraçados,
Serão anulados pelo mar.
Aqui estou sem decidir
A rima que hei-de escrever
Para o enaltecer.
Ao meu rio
Não sei que nome lhe dar…


Eugénia Edviges




Um abraço

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Palavras das Nossas Poetisas


Esta vista de mar, solitariamente,
doi-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da natureza pede
o amor em dois olhares.

Fiama Hasse Pais Brandão, Do Amor-IV






Cortaram os trigos. Agora
a minha solidão vê-se melhor.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Soror Mariana - Beja






Hoje, a saudade de ti: punhalada
de tinta muito branca,
o cheiro do que é novo, o cheiro da
doença a alastrar.

Ana Luisa Amaral, As Correcções do Amor






Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui....além....
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Florbela Espanca, Amar




Um Abraço

Palavras Dos Nossos Poetas





Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura.

Mário Cesariny, Poema


Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão ao leme da nau
Nesta deriva em que vou.
Miguel Torga, Livro de Horas



A poesia não vai à missa,
Não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.

Eugénio de Andrade, A Poesia Não Vai






O amor não é uma saga cruel:
vejo-a a cuidar das plantas no jardim,
brincam as filhas com lápis e papel
e eu escrevo sossegado. é bom assim.

Vasco Graça Moura, O Melro de visita






Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.

Alexandre O`Neill, Um Adeus Português






Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Manuel Alegre, Trova do Vento Que Passa




Um abraço
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