segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 1901 e morreu em 1964. Foi  poetisa, pintora, professora e jornalista. É considerada umas das vozes líricas mais importantes da literatura de língua portuguesa.
Órfã de pai e de mãe, Cecília foi criada por sua avó portuguesa, D. Jacinta Garcia Benevides.
Em 1919, aos dezoito anos de idade, Cecília Meireles publicou seu primeiro livro de poesias, "Espectro", um conjunto de sonetos simbolistas. Embora vivesse sob a influência do Modernismo, apresentava ainda, em sua obra, heranças do Simbolismo e técnicas do Classicismo, Gongorismo, Romantismo, Parnasianismo, Realismo e Surrealismo, razão pela qual a sua poesia é considerada intemporal.


Canção do Amor-Perfeito

Eu vi o raio de sol
beijar o outono.
Eu vi na mão dos adeuses
o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.

Eu vi bandeiras abertas
sobre o mar largo
e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco,
deixei meus olhos alegres,
trouxe meu sorriso amargo.

Bem no regaço da lua,
já não padeço.
Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses,
mas, se fores, não te esqueço.





Ninguém me Venha Dar Vida


Ninguém me venha dar vida,
que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer,
que não tenho mal nem dor,
que estou de sonho ferida,
que não me quero curar,
que estou deixando de ser
e não me quero encontrar,
que estou dentro de um navio
que sei que vai naufragar,
já não falo e ainda sorrio,
porque está perto de mim
o dono verde do mar
que busquei desde o começo,
e estava apenas no fim.

Corações, por que chorais?
Preparai meu arremesso
para as algas e os corais.

Fim ditoso, hora feliz:
guardai meu amor sem preço,
que só quis a quem não quis. 


Um grande abraço.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Colecções

Coleccionar
Velhos costumes,
Lembrar ciúmes,
Loucas paixões
E as maneiras
Sempre brejeiras
Dos corações.

Coleccionar
Sonhos fugazes
Que são capazes
De nos mudar;
Sonhos caídos,
Mas repetidos
Neste lugar.

Coleccionar
Das mãos o pão,
A porcelana, a oração,
...Doce cantar...
Velhas canções
Que em balões
Sobem no ar.

Coleccionar
Gestos, sorrisos
Que são precisos...
Na vida é arte!
Vida passada,
Emoldurada
Num escaparate.

                           Eugénia Edviges

Um abraço

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