terça-feira, 24 de maio de 2011

Domingos Lobo

Domingos Lobo é programador cultural da Câmara Municipal de Benavente;
Faz parte do Grupo A Phala, de Santarém;
É coordenador do Prémio Nacional de Poesia Natércia Freire, instituido pela CM de Benavente;
Estudou Teatro no Conservatório Nacional;
Começou a publicar os primeiros textos no Diário de Lisboa-Juvenil;
Fez rádio nos antigos Emissores Associados de Lisboa;
Fez jornalismo, crítica de teatro e de cinema;
Dirigiu o Clube de Teatro de Luanda;
Dirige actualmente o SobreTábuas-Grupo de Teatro de Benavente;
Tem vários livros publicados, entre eles, alguns de poesia que, neste blogue, não podia deixar de referir.

Partindo de um tema a construção civil, Domingos Lobo desenvolve os poemas que formam o corpo deste livro. As ilustrações são óleos sobre tela e desenhos aguarelados de A.J. Costa e Silva

A pedra

é de lioz a pedra
eterno parapeito da janela de onde avisto o Tejo
pousada na varanda às imtempéries
na minha velha casa
suspensa como um astro
nela me debruço
e revejo
a cidade que do outro lado se agita
há tanto tempo está ali
a pedra
que nela o meu corpo se moldou

cairemos os dois
um dia
sobre o asfalto



Ora agrestes e provocadores, ora magoados e amargos, líricos, realistas ou impressionistas, os seus versos ou prosa poética, a fazerem lembrar Cesário Verde, Alexandre O`Neill e Herberto Helder, tocam-nos pela força e profundidade com que estão escritos. (Nota dos editores)

acaso 2.

mete-se de permeio o tempo
envelhecemos é isso
sem retorno sem remisso
atados ao pensamento

mete-se um frio pela fresta
da pele e sobe à espinhela
caem sonhos da janela
cai-nos por fim o que resta

intempestivos e azedos
ficamos de gestos presos
na rua a olhar o vento

dói-nos o sangue e o lento
declinar dos sentidos
cravamos na carne os dentes pra cuidar que estamos vivos.





Trata-se de uma antologia poética portuguesa erótica, burlesca e satírica do século XVIII. Selecção, prefácio e notas de Domingos Lobo. Ilustrações de Dorindo de Carvalho. O soneto que eu escolhi é da autoria de António Lobo de Carvalho, que nasceu em 1730 e faleceu em 1787. É um diálogo entre um penitente freirático e um confessor casmurro:

A um fradalhão bojudo e rabugento
Seus crimes confessava um desgraçado
E entre eles dizia ter pecado
Com uma santa freira num convento:

Grita o frade: "Não tardam num momento
Raios mil, que subvertam tal malvado;
Que as esposas de Cristo há profanado
No santo asilo seu, sacro aposento!
Ora diga, infeliz, como ousaria
Tal crime confessar, e acções tão brutas
A Jesus Cristo, lá no extremo dia?..."

"Padre, deixemos pois essas disputas;
Se ele me perguntasse, eu lhe diria:
Quem vos manda senhor, casar com putas?"


Não posso descurar a prosa de Domingos Lobo. Refiro algumas obras:

Quando os Medos Ardem - teatro
Os Navios Negreiros não Sobem o Cuando - romance
Pés Nus na Água Fria - romance
Território Inimigo - contos
Desconstrutor de Neblinas - vários textos
Cenas de Um terramoto - teatro
Não Deixes que a Noite se Apague - teatro


Vale a pena partir à descoberta da escrita de Domingo Lobo

Um grande abraço



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