quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O Largo da Câmara


Um poema ao Largo da "minha" Câmara, ponto de encontro durante 32 anos da minha vida.





Já se vê no Largo a rapaziada
Alegre e barulhenta, esperando as duas,
Como o riso é lema de conversa fiada
As graças com barbas, apelidam de suas.

Estudantes vistosas esperam a hora
De algum autocarro que as há-de levar
E os jovens da Câmara logo, sem demora,
Proferem palavras que as fazem corar.

Além um casal que quer imitar
O love platónico das fitas sem história
E um velho, sentado, de olhos no par
Revolve as entranhas da sua memória.

No café da esquina a bica já espreita.
Há risos sonoros, gracejos reditos,
Um olhar furtivo ao pulso se deita
Enquanto se contam mais uns mexericos.

E soam as duas na Torre imponente
Qual canto suave, querendo acordar
A gente no Largo, a calma aparente,
O rumor da tarde que vai começar.

                                          Eugénia Edviges

Um abraço de amizade a todos os meus colegas camarários. 

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Júlio Dinis - Trigueira

Poema retirado do livro "As Pupilas do Senhor Reitor"

Trigueira! Que tem? Mais feia
Com essa cor te imaginas?
Com um só olhar dos teus!
Que ciumes tens da alvura
Desses semblantes de neve!
Ai, pobre cabeça leve!
Que te não castigue Deus!

Trigueira! Se tu soubesses
O que é ser assim trigueira!
Dessa ardilosa maneira
Porque tu o sabes ser,
Não virias lamentar-te,
Toda sentida e chorosa
Tendo inveja à cor da rosa
Sem motivos para a ter.

Trigueira! Porque és trigueira
É que eu assim te quis tanto
Daí provém todo o encanto
Em que me traz este amor.
E suspiras e murmuras!
Que mais desejavas inda
Pois serias tu mais linda
Se tivesses outra cor?

Trigueira! Onde mais realça
O brilhar duns olhos pretos,
Sempre húmidos, sempre inquietos,
Do que numa cor assim?
Onde o correr duma lágrima
Mais encantos apresenta
E um sorriso, um só nos tenta,
Como me tentou a mim.

Trigueira! E choras por isso?
Choras, quando outras te invejam
Essa cor, e em vão forcejam
Por como tu fascinar?
Ó louca, nunca mais digas,
Nunca mais, que és desditosa.
Invejar a cor da rosa
Em ti, é quase pecar.

Trigueira! Vamos esconde-me
Esse choro de criança.
Ai, que falta de confiança!
Que graciosa timidez!
Enxuga os bonitos olhos,
Então, não chores, trigueira,
E nunca dessa maneira
Te lamentes outra vez!



Um abraço

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Casimiro de Abreu - A Valsa

Poeta brasileiro da segunda geração romântica. Era filho de um fazendeiro português a residir no Brasil. Nasceu em Fazenda de Prata (Capivary) em 1839 e morreu em 1860 com tuberculose.
Em 1853 embarcou para Portugal onde esteve em contacto com o meio intelectual e escreveu nessa altura a maior parte da sua obra.
Em Lisboa foi apresentada a sua peça de teatro "Camões" em 1856.









A VALSA


(extracto)


Tu, ontem
na dança
que cansa
voavas
com as faces
em rosas
formosas
de vivo
carmim;
na valsa
tão falsa
corrias
fugias
ardente
contente
tranquila
serena
sem pena
de mim!


Quem dera
que sintas
as dores
de amores
que louco
senti!
quem dera
que sintas!
não negues
não mintas
eu vi!


Valsavas:
teus belos
cabelos
já soltos
revoltos
saltavam
voavam
brincavam
no colo
que é meu;
e os olhos
escuros
tão puros
os olhos
perjuros
volvias
tremias
para outro
não eu!


Quem dera
que sintas
as dores
de amores
que louco
senti!
Não negues
não mintas
eu vi!



Um abraço!




sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O Rio da Minha Terra

Sereno passas
Ó Rio da minha terra.
Pelo vento afagado,
Por freixos beijado.
Ao longe há casais,
A terra é doirada...
Seara-lamento
No meu pensamento...
As aves já cantam
No verde viçoso
E poetas exploram
As Musas que acordam.
O Largo é eterno,
O Jardim segreda
Murmúrios nocturnos
De beijos fecundos.

E como te vê
A seus pés passar
A Cruz do Calvário
Parece gritar!

                                             Eugénia Edviges
                                                      

Um abraço!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Quadras à Minha Terra



Canta a Torre as badaladas
E eu não sei qual a razão
Porque ao passar, as malvadas
Vibram no meu coração

Passa o Sorraia, anoitece
O Largo brilha ao luar
Olho o Calvário e parece
Que a cruz está a gritar.

Cubro o Parque de encantos
Nas noites que sei rimar
E penteio os seus recantos
Com um pente de luar.

A gente da minha terra
É cheia de devoção
Lamentos que o peito encerra
Em dia de procissão.

Por muito que entristeça
E o peito chore de dor
Foi este povo, com certeza
Que limou o meu valor

A minha terra é a margem
Desse Sorraia a correr
Choro a ver esta paisagem
Que um dia me viu nascer

                           Eugénia Edviges

Um abraço!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Nova Obra de Domingos Lobo



Mais um livro de poesia de Domingos Lobo editado em Julho de 2011 pela Fonte da Palavra.


do tédio


olhos nos olhos revivo
a idade e a amargura
os meus dedos são o crivo
da lucidez da loucura

mais dentro da pele nos ossos
mais perto do sangue à pele
dentro da pele os destroços
de um corpo que me repele

ossos que vão à compita
de um corpo já sem remédio
dentro dos lábios contrita

a palavra é o pulmão
oxigénio do tédio
a dar corda ao coração


Bonito! A não perder!


Um abraço!
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