terça-feira, 30 de agosto de 2011

Júlio Dinis - Trigueira

Poema retirado do livro "As Pupilas do Senhor Reitor"

Trigueira! Que tem? Mais feia
Com essa cor te imaginas?
Com um só olhar dos teus!
Que ciumes tens da alvura
Desses semblantes de neve!
Ai, pobre cabeça leve!
Que te não castigue Deus!

Trigueira! Se tu soubesses
O que é ser assim trigueira!
Dessa ardilosa maneira
Porque tu o sabes ser,
Não virias lamentar-te,
Toda sentida e chorosa
Tendo inveja à cor da rosa
Sem motivos para a ter.

Trigueira! Porque és trigueira
É que eu assim te quis tanto
Daí provém todo o encanto
Em que me traz este amor.
E suspiras e murmuras!
Que mais desejavas inda
Pois serias tu mais linda
Se tivesses outra cor?

Trigueira! Onde mais realça
O brilhar duns olhos pretos,
Sempre húmidos, sempre inquietos,
Do que numa cor assim?
Onde o correr duma lágrima
Mais encantos apresenta
E um sorriso, um só nos tenta,
Como me tentou a mim.

Trigueira! E choras por isso?
Choras, quando outras te invejam
Essa cor, e em vão forcejam
Por como tu fascinar?
Ó louca, nunca mais digas,
Nunca mais, que és desditosa.
Invejar a cor da rosa
Em ti, é quase pecar.

Trigueira! Vamos esconde-me
Esse choro de criança.
Ai, que falta de confiança!
Que graciosa timidez!
Enxuga os bonitos olhos,
Então, não chores, trigueira,
E nunca dessa maneira
Te lamentes outra vez!



Um abraço

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