quarta-feira, 1 de junho de 2011

Viver Ontem

Foi na minha rua de infância que eu brinquei. Foi lá, quando a manta da noite nos tapava, que eu e todas as outras crianças amigas jogávamos à bola, fazíamos corridas para ver quem chegava primeiro ao Largo do Calvário, brincávamos às escondidas e... fazíamos patifarias, como tocar às campainhas das portas. Era um nunca acabar de brincadeiras pela noite fora. E nem as ameaças das avós ou os ralhos das mães nos faziam arredar pé em direção à cama. Só nos íamos deitar quando o cansaço tomava conta de nós, as sombras da noite começavam a ficar tenebrosas ou algum, já sem forças para continuar, dormitava em qualquer degrau de uma porta. E a minha rua tem um nome lindo: Rua do Pinheiro! Sim, a minha rua merece um prémio: um poema escrito pela minha mão.

        


        VIVER ONTEM
       
       

        Hoje estaquei.
E fui ver aquela rua
Onde brinquei quando vivi.
Quando as noites eram crianças
Que se juntavam a nós.
E as avós,
Mãos cruzadas nos regaços,
Olhavam com abraços
De ternura.
E diziam:
- Horas de deitar!
- Olhem os “homens do sangue”
E por momentos
Crescia a cruz do Calvário
Entre os clarões do luar...
Mas os nossos corações
Cabiam na rua inteira.
E vá de roda que é cedo,
Vá de cantar que as canções
Afugentam os malvados!
Era o jogo do Anel,
Da Semana, ao Pau
Queimado, e com ardor
Procurava-se a mão
Do nosso primeiro amor...!
E os sonhos eram certezas.
Promessas deste futuro
Que se romperam no tempo
Dos bibes e dos calções...

 E à esquina deserta murmuro:

Oxalá quando eu chegar
Ao limite desta vida
Haja alguém que me embale
E me cante uma cantiga...

                                                 Eugénia Edviges



Um grande abraço do tamanho da minha rua

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...