quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Ladainha dos Póstumos Natais - David Mourão-Ferreira
Poema do livro "Cancioneiro de Natal"
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do infinito.
UM ABRAÇO.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
terça-feira, 17 de julho de 2012
As Letras que Eles Cantam - Versos de Amor
Às onze e meia, sai para a rua,
Com o seu fato domingueiro,
Dormindo a aldeia, brilhando a lua,
Num céu de estrelas, conselheiro
Coração quente, timidamente,
À sua porta então chamou
E abriu-se a janela e só para ela,
Triste, cantou...
Versos de amor,
Lindos esses versos de amor
Que fizera em segredo,
A sonhar, quase a medo,
Um viver tentador.
A sua vida por uns versos de amor,
Lindos esses versos de amor
Na mais terna amargura,
O silêncio murmura uma história de amor
A noite imensa, foi mais rainha,
Quando uma lágrima caiu,
Na recompensa, o amor que tinha,
Ela também chorou, sorriu
Foi tão bonito, tinham-lhe dito,
Que amar ás vezes faz doer,
Mas a dor que sentia,
Não lhe doía, dava prazer...
Versos de amor,
Lindos esses versos de amor
Que fizera em segredo,
A sonhar, quase a medo,
Um viver tentador.
A sua vida por uns versos de amor,
Lindos esses versos de amor
Na mais terna amargura,
O silêncio murmura uma história de amor
Na mais terna amargura,
O silêncio murmura uma história de amor.
Um abraço.
Com o seu fato domingueiro,
Dormindo a aldeia, brilhando a lua,
Num céu de estrelas, conselheiro
Coração quente, timidamente,
À sua porta então chamou
E abriu-se a janela e só para ela,
Triste, cantou...
Versos de amor,
Lindos esses versos de amor
Que fizera em segredo,
A sonhar, quase a medo,
Um viver tentador.
A sua vida por uns versos de amor,
Lindos esses versos de amor
Na mais terna amargura,
O silêncio murmura uma história de amor
A noite imensa, foi mais rainha,
Quando uma lágrima caiu,
Na recompensa, o amor que tinha,
Ela também chorou, sorriu
Foi tão bonito, tinham-lhe dito,
Que amar ás vezes faz doer,
Mas a dor que sentia,
Não lhe doía, dava prazer...
Versos de amor,
Lindos esses versos de amor
Que fizera em segredo,
A sonhar, quase a medo,
Um viver tentador.
A sua vida por uns versos de amor,
Lindos esses versos de amor
Na mais terna amargura,
O silêncio murmura uma história de amor
Na mais terna amargura,
O silêncio murmura uma história de amor.
Um abraço.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Tu Eras
Tu eras
A minha força,
O meu devaneio, o meu lugar,
O meu cais de choro e riso.
Para o meu inferno
Buscava o teu paraíso.
Tu eras
O meu conforto,
O meu amparo de cetim,
O meu rio de águas claras.
Para esta revolta
Buscava as tuas palavras.
Disse-te adeus e voltei.
Sobre o ombro
Atiro um último olhar
Sem sentido.
Sinto-me nua
Porque tudo o que levei
Ficou contigo.
Eugénia Edviges
Um abraço
segunda-feira, 21 de maio de 2012
A Olhar o Meu Rio
De olhar
enternecido
Debruço-me
na ponte
Do meu rio.
O vento
traz-me ao ouvido
Cantares de
outras vozes,
Do pulsar de outros corações.
Margens de
aluvião
Que dão
sustento
A este povo
curvado
Sobre a
terra, sobre o pão.
Lembrança
que faz sentir
Amores e
desenganos
De outros
corpos envolvidos
Nas árvores
do seu encanto;
De outras mãos que lavavam
As vestes
do seu penar;
De outros
sonhos por cumprir.
Corre tranquilo
para o Tejo
E os dois,
abraçados,
Serão anulados pelo mar.
Aqui estou sem decidir
A rima que hei-de escrever
Para o enaltecer.
Aqui estou sem decidir
A rima que hei-de escrever
Para o enaltecer.
Ao meu rio
Não sei que
nome lhe dar…
Eugénia Edviges
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Palavras das Nossas Poetisas
Esta vista de mar, solitariamente,
doi-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da natureza pede
o amor em dois olhares.
Fiama Hasse Pais Brandão, Do Amor-IV
Cortaram os trigos. Agora
a minha solidão vê-se melhor.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Soror Mariana - Beja
Hoje, a saudade de ti: punhalada
de tinta muito branca,
o cheiro do que é novo, o cheiro da
doença a alastrar.
Ana Luisa Amaral, As Correcções do Amor
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui....além....
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Florbela Espanca, Amar
Um Abraço
Palavras Dos Nossos Poetas
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura.
Mário Cesariny, Poema
Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão ao leme da nau
Nesta deriva em que vou.
Miguel Torga, Livro de Horas
A poesia não vai à missa,
Não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.
Eugénio de Andrade, A Poesia Não Vai
O amor não é uma saga cruel:
vejo-a a cuidar das plantas no jardim,
brincam as filhas com lápis e papel
e eu escrevo sossegado. é bom assim.
Vasco Graça Moura, O Melro de visita
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.
Alexandre O`Neill, Um Adeus Português
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Manuel Alegre, Trova do Vento Que Passa
Um abraço
sexta-feira, 20 de abril de 2012
PRELÚDIO
Era um dia
triste e feio daquele mês,
Era um dia
sem ter luz, acinzentado,
Como um
sonho, aos poucos, inacessível,
Como a alma
de um povo amedrontado.
- Onde
estão os cravos deste Jardim?
Perguntam
sem saber qual a razão
Por que o
peito português batia tanto,
Por que
exultava, confiante, o coração.
O orvalho
da manhã trazia esperança,
Amputara-se
a chaga pela raiz
E as vozes
oprimidas, murmuravam:
- Onde
estão os cravos deste País?
E a Festa
do meu povo começou
E até o céu
parecia azul-anil,
Porque algo
grandioso acontecera
Com os
cravos cor de sangue, cor de Abril!
Um abraço revolucionário.
terça-feira, 10 de abril de 2012
Comunhão
Ouve o rumor
Das almas perdidas.
Repousa nas sombras
Dos cantos solitários.
Embala o sexo desejado
Em corpos suados de amor.
Ouve o sussurro
Das folhas de Outono,
Escuta o murmúrio da água
Que corre para o mar
E se agiganta.
Sente a frescura dos plátanos,
Perde o olhar na certeza das serras,
Nos gestos das florestas.
Rejubila.
Sobrevive.
Eugénia Edviges
Um abraço
quarta-feira, 21 de março de 2012
Dia Mundial da Poesia 2012
Hoje celebra-se o Dia Mundial da Poesia. Não podia deixar passar este dia sem publicar no blogue poemas do maior poeta de língua portuguesa do século XX - Fernando Pessoa
Padrão
O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Um grande abraço poético.
Padrão
O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Um grande abraço poético.
quarta-feira, 14 de março de 2012
Luis de Camões- Esparsa ao Desconcerto do Mundo
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só para mim
Anda o mundo concertado.
Um abraço
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
Esparsa ao Desconcerto do Mundo
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só para mim
Anda o mundo concertado.
Um abraço
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