quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Ladainha dos Póstumos Natais - David Mourão-Ferreira
Poema do livro "Cancioneiro de Natal"
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do infinito.
UM ABRAÇO.
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